Perguntas frequentes
Nesta página, encontrarão as perguntas que mais frequentemente têm sido feitas pelos pais e as respectivas respostas. Foram agrupadas e publicadas no Guia para Famílias de Pessoas LGB+, no âmbito do projeto Ampliando Famílias.
O QUE É UMA PESSOA LÉSBICA, GAY, BISSEXUAL?
Uma pessoa lésbica identifica-se com o género feminino e sente-se atraída por pessoas do género feminino; uma pessoa gay identifica-se com o género masculino e sente-se atraída por pessoas do género masculino; uma pessoa bissexual sente atração por ambos os géneros (ver Glossário).
São situações relativamente comuns, ainda que socialmente invisibilizadas.
AS PESSOAS LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS SÃO TODAS IGUAIS?
Não. Tal como as pessoas heterossexuais, as pessoas gays ou lésbicas ou bissexuais são todas diferentes na sua forma de estar e de viver a sua sexualidade. Só a própria pessoa sabe como se sente, o que a homossexualidade ou bissexualidade significa para si, e como se reflete na sua forma de ser e estar.
Por vezes os familiares procuram, na infância destas pessoas, padrões de comportamento, de preferências ou brincadeiras associadas ao género “oposto” (as “Marias-rapazes” e os meninos efeminados). Trata-se de um pressuposto influenciado por estereótipos de género heteronormativos, que podem, ou não, fazer parte da realidade de lésbicas, gays ou bissexuais.
O importante é considerar-se que não existem pessoas iguais e que só a própria pessoa, independentemente dos seus comportamentos, aparência ou preferências, sabe qual a sua orientação sexual, sendo todas as orientações sexuais igualmente válidas.
SER LÉSBICA, GAY OU BISSEXUAL É A MESMA COISA QUE SER TRANS*?
Não. São conceitos diferentes que refletem situações diferentes. Uma coisa é a orientação sexual, outra a identidade de género. A orientação sexual está relacionada com a atração (física e/ou emocional) por outras pessoas, enquanto a identidade de género é a forma como cada pessoa se sente e identifica quanto ao seu género (ser homem, mulher, nenhum dos dois, entre outras possibilidades). Contudo, a confusão entre orientação sexual não normativa (ser gay, lésbica, bissexual ou outra) e identidade de género não normativa (ser trans*) é muito comum.
Apesar de se tratar de temáticas diferentes, e de as pessoas enfrentarem desafios específicos, a orientação sexual e a identidade de género surgem frequentemente associadas, a nível político e associativo, por serem ambas categorias de pessoas socialmente discriminadas por razões semelhantes. Daí a sigla LGBT – lésbicas, gays, bissexuais e trans (ver Biscoito de Género).
SERÁ UMA “FASE”?
A ideia de que possa ser uma “fase” está habitualmente presente após o momento de revelação da própria pessoa, habitualmente designado como coming out ou “saída do armário”, sobretudo quando se trata de um/uma jovem. No entanto, apesar de para a família o processo só se iniciar nesse momento, a própria pessoa pode já ter passado por um período longo de questionamento interior e, quando resolve assumir, sabe convictamente que é esse o seu caminho.
Ser lésbica, gay ou bissexual não é uma escolha nem um capricho, pelo que o melhor é confiar na pessoa que lhe faz a revelação. Ninguém melhor do que ela poderá explicar como se sente. Deve, no entanto, ouvir e colocar todas as perguntas necessárias para esclarecer as dúvidas, fazendo-o a pouco e pouco. Certamente a pessoa lésbica, gay ou bissexual está disponível para responder e é preferível colocar questões do que ficar com ideias erradas que só irão dificultar o processo. No entanto, não só deve dar tempo ao/à seu/sua familiar para ir revelando o que deseja revelar, como deve dar tempo a si própria/o para ir assimilando a nova informação.
“E é assim, a gente também pensa que é uma fase. Acho que é o primeiro impacto que a gente pensa, seja num caso, ou seja noutro, é uma fase, vamos ver no que vai dar.”
(Mãe de pessoa lésbica)
TRATA-SE DE UMA DOENÇA?
Não. A diversidade faz parte da natureza humana e a orientação sexual não foge a essa diversidade. São as regras sociais que criam estereótipos de categorização e impõem a heterossexualidade como dominante, eliminando todas as outras possibilidades.
A Associação Americana de Psiquiatria, em 1973, e a Organização Mundial de Saúde, em 1990, deixaram de considerar a homossexualidade uma doença.
Contudo, o sofrimento causado pela incompreensão e dificuldades de aceitação social das pessoas lésbicas, gays ou bissexuais, tem um forte impacto no seu bem-estar e qualidade de vida, sendo responsável por situações de depressão e outras perturbações de natureza psicológica, para as quais poderão ser necessárias respostas do foro clínico.
É NECESSÁRIO UM DIAGNÓSTICO?
A orientação sexual não se valida através de diagnósticos clínicos, porque não é uma doença. A família deve, antes de mais, confiar no que diz a pessoa acerca de si própria e sobre as suas necessidades. Não existe nenhum/ma profissional de saúde que, do ponto de vista físico e/ou mental, perceba melhor qual a orientação sexual de uma pessoa do que ela própria. No entanto, a própria pessoa lésbica, gay ou bissexual pode necessitar de recorrer a um/uma profissional para a ajudar a compreender e a lidar melhor com a situação.
Se a própria pessoa lésbica, gay ou bissexual necessitar de apoio clínico para perceber o que se passa consigo, a família deve procurar ajuda especializada de profissionais, quer no Serviço Nacional de Saúde, quer no setor privado.
“… ela não sabia o que lhe estava a acontecer… aconselhei-a até a procurar um psicólogo que a pudesse ajudar a perceber o que estava a acontecer com ela… acabou por ir e começar a entender-se melhor…”
(Mãe de pessoa lésbica)
Também os membros da família que sintam necessidade de procurar apoio para si próprios, podem recorrer a serviços e profissionais especializados/as. Existe ainda muito preconceito acerca do recurso a apoio clínico, contudo, este pode ser uma forma preciosa para o/a ajudar a ultrapassar um dos momentos mais desafiantes da sua vida. Quanto mais rapidamente se sentir bem com a situação, mais disponível estará para apoiar a pessoa lésbica, gay ou bissexual.
“… a única coisa que fizemos foi levá-lo ao psicólogo, que eu acho que quem precisava era eu, na altura.”
(Mãe de pessoa gay)
“… tive sessões com a minha psicoterapeuta para conversarmos sobre o assunto e acerca de como eu devia lidar com o assunto, foi exatamente isso que procurei, foi esse tipo de ajuda.”
(Mãe de pessoa lésbica)
SENDO UMA QUESTÃO INDIVIDUAL, A PESSOA LÉSBICA, GAY OU BISSEXUAL DEVE VIVER SOZINHA ESSA QUESTÃO?
Não. A vivência de uma orientação sexual não normativa é um caminho com muitos desafios para ultrapassar. Quanto mais sozinha a pessoa estiver, mais difícil será esse caminho.
Infelizmente, ainda nem todas as famílias conseguem compreender e apoiar o/a seu/sua familiar lésbica, gay ou bissexual, situação que traz grande sofrimento a estas pessoas pela rejeição da própria família.
O apoio das pessoas mais próximas e significativas, como a família, é de extrema importância. Os estudos têm demonstrado que esse apoio é um dos melhores indicadores para que as pessoas lésbicas, gays ou bissexuais possam aumentar a sua capacidade de resistir às adversidades e apresentarem melhores índices de bem-estar.
E AS FAMÍLIAS DESTAS PESSOAS, NÃO SÃO AFETADAS?
Sim. As famílias também passam por muitos e diversos desafios (acompanhando os/as seus/suas filhos/filhas ou outros familiares), mas sobretudo por momentos de compreensão progressiva e acolhimento.
É normal que a família se preocupe e sofra. Contudo, o mais importante é colocar-se no papel do/da familiar e tentar perceber o que este/a sofreu sozinho/a antes de ter coragem para fazer o seu coming out na família e, para ultrapassar as preocupações e receios, deve munir-se do máximo de informação e de apoio possível. Neste sentido, pode procurar conhecer outras pessoas lésbicas, gays ou bissexuais e famílias nas mesmas circunstâncias, percebendo que nada de estranho se passa com essas pessoas nem com as suas famílias, sendo a sua vida tão comum quanto a de qualquer outra pessoa (a ideia de que as pessoas lésbicas, gays ou bissexuais têm estilos de vida estranhos, não passa de um mito associado ao preconceito).
As famílias encontram o caminho para o apoio à pessoa lésbica, gay ou bissexual no seu amor incondicional, nunca questionando o seu amor por aquela pessoa e fazendo mesmo questão de o reforçar no seu dia-a-dia. Essa experiência passa pela escuta, pelo diálogo e por estar presente, disponível, mostrar-se publicamente apoiante, enfrentar as dificuldades em conjunto com o/a seu/sua filho/filha (ou outro familiar). Trata-se de uma experiência exigente para as famílias tendo em conta as pressões sociais heteronormativas que ainda existem. Sobretudo se estamos a falar de uma relação pais/mães/filhos/filhas. Contudo, mesmo que a relação tenha ficado mais difícil no início, tornar-se-á numa relação mais saudável e transparente e, desejavelmente, de maior cumplicidade.
“É assim, não lhes chega revelar, eles têm de perceber que algum processo em nós se operou no sentido de os percebermos e os aceitarmos, porque não chega um ‘Sim, sim filho, pronto, não há problema’, porque isto não é nada.”
(Pai de pessoa gay)