Artigo: “As Mães e os Pais da AMPLOS”


“Lentamente, os quadradinhos no ecrã do computador vão-se acendendo.

Os pais e as mães mostram-se, alguns e algumas com a desenvoltura de quem já conhece este ritual, outros e outras com o olhar expectante da criança recém-nascida que encara a luz pela primeira vez.
Desde o início da pandemia que as reuniões de pais e mães passaram para o mundo virtual, substituíram-se abraços por sorrisos, lenços de papel por palavras.
Filhos e filhas, apesar da sua ausência, estão sempre presentes, é por eles e elas que estes pais e mães se encontram, e abrem os seus corações a pessoas estranhas que parecem perceber tão bem a sua linguagem.
Esta linguagem (que vem diretamente do coração) tem lágrimas, culpas e dores, mas também sorrisos, luta e amor.
Amor Incondicional – poderia ser o lema da Amplos (e é).
O desconhecido é sempre um campo minado, e a tendência é resistir, tentar afastar o que não entendemos, fechar os olhos na esperança vã que desapareça.
Mas eis que ali estão, filhos e filhas que não preenchem as nossas expectativas, e que nos obrigam a ver o mundo com outros olhos.

Filhos e filhas não sabem, mas são como pérolas de conhecimento para os seus pais e mães, abrem-lhes mundos desconhecidos, tornando-os/as mais conscientes das desigualdades que os/as rodeiam, fazendo-os/as parar, escutar e olhar esta sociedade tão frenética, impiedosa para tudo o que é diferente.

Então, pais e mães crescem.
E orgulham-se destes filhos e destas filhas.
E lutam ao seu lado.
Carregam as suas bandeiras, celebram as suas cores (e são tantas), e reivindicam o reconhecimento dos seus corpos.
E nunca mais poderão encarar o mundo com a leveza do passado.
Sabem que este seu comprometimento com a defesa dos Direitos Humanos poderá ajudar a salvar vidas, e que essas vidas podem ser as das pessoas que mais amam. 
Mas lutam, também, por filhos e filhas que caminham sós, intervindo social e politicamente para que ninguém seja deixado/a para trás.
Como foi Gisberta.”

Texto de Isabel Rodrigues, 48 anos. Mãe Amplos desde 2016. Assistente de direção da AMPLOS. Mãe de um filho Trans de 22 anos, o que a impulsionou a abraçar a causa LGBTI+. Defensora dos Direitos Humanos. 

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